Ser Presidiário é...

Não consigo combinar palavras capazes de traduzir a essência desta nação... Eu poderia usar a definição do dicionário (nação s. f. 1. Conjunto de indivíduos habituados aos mesmos usos, costumes e língua. 2. Estado que se governa por leis próprias), afinal, como diz um de nossos hinos, compartilhamos da mesma condição (a de presidiários) e vivemos sob nossas próprias leis (ao contrário e sem compromisso). Mas, ainda assim, seria insuficiente. A nação Presidiana, diferente do que possa aparentar, não nasceu da apologia ao álcool ou à transgressão, Ao Contrário, nasceu da alma poética de um homem que, justamente, por ver (e viver) a vida como uma eterna folia queria sim fazer apologia, não à subversão, mas à amizade, à celebração. “Presidiários Anônimos” é caricatura, é exagero, é a expressão bem humorada e descontraída da capacidade que temos de transformar um dia vazio numa grande festa. Creio ter sido este o ideal do nosso Eterno Presidente de Honra Zé Helder ao pôr, com a ajuda de seus companheiros, seu bloco na rua. E entendo ser a prova da nobreza e veracidade de tal ideal o fato de estarmos, há vinte e cinco anos, re-pondo o bloco na avenida e celebrando o que, verdadeiramente, nos re-une: a amizade e o abraço de Piedade.

por: 4362 - Aline Barra

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Mais uma: Entrevistas com Ex-Presidentes

Dando sequencia as entrevistas no blog, segue depoimento de um dos presidentes mais longos do Bloco, praticamente nosso Pinochet. Fala ai 4373:
 
 
1. Qual motivação o levou a aceitar a presidência do Bloco Caricato Presidiários Anônimos e como aconteceu? 
R. Entrei para o Bloco em 1996 na comemoração dos 10 Anos de Presidiários. Já em 1997 comecei a ajudar na organização do Bloco, juntamente com as pessoas que eram mais ligadas naquela época. Em 1999, quando voltei a morar em Piedade, já que antes estudava em Juiz de Fora, passei a ser um apoio maior ainda aos então diretores do Bloco, já que de Piedade as coisas se resolviam mais fáceis. Ajudar na organização do Bloco sempre foi uma grande motivação pra todos aqueles que já tiveram a oportunidade e comigo não foi diferente. A Galera é unida, piadas acontecem a cada instante, logo vira festa. Tornar-me Presidente do Bloco foi saber que essa Nação maravilhosa confiava em mim e que eu não poderia decepcionar. Para mim, foi um orgulho imenso ter comandado esta Grande Família que somos e sempre seremos!


2. Qual o maior desafio durante a sua gestão e a maior recompensa?
R. Desafios foram muitos, mas sem dúvida o maior deles foi organizar a comemoração dos “20 Anos do Bloco”. Para quem não sabe nosso Bloco não recebe nenhum tipo de ajuda financeira de fora do Bloco. Juntamos alguns membros em meados de setembro de 2005 e planejamos fazer uma grande festa, mas havia o maior obstáculo: a falta de recursos. Mas graças ao empenho de muitos, conseguimos realizar uma festa que marcou toda a Nação Presidiana e também a segunda-feira de todo folião que se encontrava no Carnaval piedense de 2006. Acho que recompensa maior não seria possível.


3. Conte uma boa passagem do saudoso presidente de honra, Zé Helder.
R. Todos aqueles que participaram da vida do Zé Helder sabem que ela praticamente aconteceu apenas por boas passagens. Eu pude acompanhar isso em alguns momentos, principalmente nos churrascos e nos desfiles. Eu adorava ver sempre o início do batismo dos novos membros. Zé Helder sempre iniciava o batismo com seu discurso rígido de que sempre devêssemos honrar nossas cores e nossos ideais. Todo ano era a mesma coisa, ele começava: “há tantos anos, Eu, Big Charles, Godério, Tonho do Natinho” e por aí ia soltando os “nomes” dos fundadores em 1986. De longe, aqueles que sempre se fizeram presentes nos batismos já completavam a próxima frase do Zé e ele às vezes concordava ou às vezes dizia “nãããoo, ..., ieeeco!”As risadas da galera ao verem suas reações eram as melhores possíveis e ele com sua irreverência, prosseguia no discurso as vezes até transmitido ao vivo pelas ondas da Auto Rio Grande FM. São boas lembranças dessa grande pessoa que será eterno no coração de cada Presidiário Anônimo sem Preconceito como ele mesmo gostava de se referir ao seu tão amado Bloco Caricato.



4. Como você enxerga o bloco atualmente e como imagina seu futuro?
R. O Bloco cresceu bastante nestes 15 anos em que faço parte. A cada ano, a moçada mais nova que completa 18 anos e que já está ligada a integrantes do Bloco quer participar. Presidiários Anônimos sempre foi diferente, dizemos que somos uma “bagunça organizada”, e acho que muito bem organizada por sinal porque chegar aos 25 anos não é mole. Muitos em Piedade ficaram pelo caminho, mas nós, membros presidiários, sempre terminamos uma segunda-feira de carnaval já imaginando como será a próxima e é isso que nunca deve acabar dentro desta Nação. O orgulho de cada um em ser um Presidiário Anônimo sem Preconceito é a alma desse Bloco e é isso que os mais jovens têm a responsabilidade de carregar consigo. Para mim, “uma vez presidiário, presidiário até morrer!”



5. Qual a sua sensação ao ver o Bloco Caricato Presidiários Anônimos completar 25 carnavais?
R. Acho que é uma sensação diferente da que muitos sentem uma sensação que talvez só aqueles que já lutaram muito por este Bloco sabem o que é. Como disse anteriormente, fiquei praticamente 10 anos atuando direta ou indiretamente na organização. Tive o prazer de ajudar Barrão, Zoio, Fefél, e sempre o saudoso Sá Neném até que chegou a minha vez. Tive o privilégio de ser Presidente em 2006 nos 20 anos e quando passou o carnaval, nós que sempre atuamos, já discutíamos a festa dos 25 anos. Ela chegou e a nossa responsabilidade é grande! Sei que faremos o nosso melhor e que cada presidiário presente ficará com a lembrança gravada na memória dessa festa que nada mais será “uma reunião de confraternização familiar” dessa Família preta e branca que sempre estará unida na alegria e na tristeza como até hoje sempre foi.

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