Ser Presidiário é...

Não consigo combinar palavras capazes de traduzir a essência desta nação... Eu poderia usar a definição do dicionário (nação s. f. 1. Conjunto de indivíduos habituados aos mesmos usos, costumes e língua. 2. Estado que se governa por leis próprias), afinal, como diz um de nossos hinos, compartilhamos da mesma condição (a de presidiários) e vivemos sob nossas próprias leis (ao contrário e sem compromisso). Mas, ainda assim, seria insuficiente. A nação Presidiana, diferente do que possa aparentar, não nasceu da apologia ao álcool ou à transgressão, Ao Contrário, nasceu da alma poética de um homem que, justamente, por ver (e viver) a vida como uma eterna folia queria sim fazer apologia, não à subversão, mas à amizade, à celebração. “Presidiários Anônimos” é caricatura, é exagero, é a expressão bem humorada e descontraída da capacidade que temos de transformar um dia vazio numa grande festa. Creio ter sido este o ideal do nosso Eterno Presidente de Honra Zé Helder ao pôr, com a ajuda de seus companheiros, seu bloco na rua. E entendo ser a prova da nobreza e veracidade de tal ideal o fato de estarmos, há vinte e cinco anos, re-pondo o bloco na avenida e celebrando o que, verdadeiramente, nos re-une: a amizade e o abraço de Piedade.

por: 4362 - Aline Barra

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A entrevista desta semana trás o ex-presidente 4380, vulgo eu mesmo, comentem, critiquem, elogiem, rabisquem e, principalmente, divulguem.


1.      Qual motivação o levou a aceitar a presidência do Bloco Caricato Presidiários Anônimos e como aconteceu? 
Como sou da segunda ou terceira geração, desde criança já via o bloco descer o Rosário e fazer muita festa. Naturalmente foi crescendo o desejo de um dia participar. Depois, já morando em Juiz de Fora, vivi de perto o período que o Barrão presidia o Bloco, correndo atrás de desenhos, camisas, organizando o churrasco, etc., quando já comecei a ajudá-lo. Lembro inclusive de um carnaval que viajávamos para Piedade, Barrão, Zé Helder, Evandro e eu, com Zé Helder dirigindo, ele, salvo engano, já não aparecia na Cemig para trabalhar há uma semana, tudo pelo embalo na proximidade desta festa pagã. A motivação vem do significado do Bloco, da sinergia de amizade da primeira geração que fluiu para as gerações posteriores e o período que presidi aconteceu naturalmente, após a presidência do Barrão.

2.      Qual o maior desafio durante a sua gestão e a maior recompensa?
Acho que o desafio do meu mandato, além da responsabilidade pelos compromissos do bloco, foi a comemoração dos 15 anos. Debutar foi preciso e lá estávamos presentes adentrando a Av. 7, sem nenhum preconceito e tampouco sóbrios, o que recompensou todo os esforço.


3.      Conte uma boa passagem do saudoso presidente de honra, Zé Helder.
Nosso inesquecível presidente de honra, Sá Neném, resume-se a boas passagens e escreveríamos um livro. Tenho algumas que não posso contar (talvez as melhores) e outras mais sociais. Tive o privilégio de fazer uma viagem com o Zé em 2000, ficamos dez dias entre o litoral norte carioca e sul capixaba, onde o Barrão se juntou a nós. Lembro que na casa do Barrão em Campos, quando chegamos encontramos várias garrafas de cachaça. Era cachaça com cobra, cachaça com fruta do norte, cachaça pura da branca, da amarela, em garrafas comuns, garrafas trabalhadas, de todo tipo. Bem, no fim da estadia a cobra estava seca no fundo da garrafa, a fruta era pó, as garrafas comuns estavam enfileiradas perto do lixo e as garrafas elaboradas estavam encostadas no balcão para futura reposição.

4.      Como você enxerga o bloco atualmente e como imagina seu futuro?
Tem certeza que o grande alicerce que sustenta o bloco é a amizade de todos nós. Vou à Piedade e encontro num mesmo bar confraternizando a última geração do bloco, junto com a penúltima, a ante, além de fundadores, todos ali, conversando e bebendo juntos. Isso é o grande diferencial e o nosso suporte para completarmos estes 25 anos de desfiles. Imagino o futuro de duas formas, com as novas gerações descendo o Rosário como nós ou, caso interrompam-se os desfiles, que pelo menos alguns saudosos e sabedores desta história, brindem numa segunda feira de carnaval nossa bandeira.

5.      Qual a sua sensação ao ver o Bloco Caricato Presidiários Anônimos completar 25 carnavais?
Posso dizer que estar na cabana do Branca no dia 07 de março deste ano vai ter um sabor especial pra mim. Ano passado, em função de um quadro febril do meu filho Yuri, perdi um desfile do bloco desde quando fui batizado (acho que 1995), portanto eram 16 desfiles consecutivos. Pior: estava eu com o Yuri na casa do sogro em Piedade e de lá, escutava cada foguete estourado e cada batida desafinada da nossa bateria. Que venha o carnaval!

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