Ser Presidiário é...

Não consigo combinar palavras capazes de traduzir a essência desta nação... Eu poderia usar a definição do dicionário (nação s. f. 1. Conjunto de indivíduos habituados aos mesmos usos, costumes e língua. 2. Estado que se governa por leis próprias), afinal, como diz um de nossos hinos, compartilhamos da mesma condição (a de presidiários) e vivemos sob nossas próprias leis (ao contrário e sem compromisso). Mas, ainda assim, seria insuficiente. A nação Presidiana, diferente do que possa aparentar, não nasceu da apologia ao álcool ou à transgressão, Ao Contrário, nasceu da alma poética de um homem que, justamente, por ver (e viver) a vida como uma eterna folia queria sim fazer apologia, não à subversão, mas à amizade, à celebração. “Presidiários Anônimos” é caricatura, é exagero, é a expressão bem humorada e descontraída da capacidade que temos de transformar um dia vazio numa grande festa. Creio ter sido este o ideal do nosso Eterno Presidente de Honra Zé Helder ao pôr, com a ajuda de seus companheiros, seu bloco na rua. E entendo ser a prova da nobreza e veracidade de tal ideal o fato de estarmos, há vinte e cinco anos, re-pondo o bloco na avenida e celebrando o que, verdadeiramente, nos re-une: a amizade e o abraço de Piedade.

por: 4362 - Aline Barra

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Entrevistas com Ex-Presidentes

Conforme anunciado pela atual presidência, vamos começar a partir desta data a publicar uma série de entrevistas com ex-presidentes do bloco. A ordem das postagens obedece somente a entrega dos materiais das entrevistas. Começaremos portanto com nosso amigo 4338, vulgo Rafael. Divirtam-se!

1. Qual motivação o levou a aceitar a presidência do Bloco Caricato Presidiários Anônimos e como aconteceu?

Entrei para o Bloco dos Presidiários em 1995 e em 1996 já estava acompanhando o presidente Barrão com os trabalhos do bloco para a festa de 10 anos. Depois o Tiago assumiu a presidencia e eu tentava ajudar da forma que dava, nessa época tinhamos o churrasco no campo do Piedense e foi lá que me lançaram como presidente. O nosso querido Zé Helder lançou o meu nome, e depois de muita zuação da galera para deixar o Zé bravo eu aceitei a presidência dos presidiários, fui presidente na gestão 2003/2004. Aceitei a presidencia porque me identifico com este bloco, porque gosto de sentir a euforia da concentração lá no Branca, gosto de entrar na avenida vestido de presidiário. O desfile na segunda feira de carnaval é uma emoção que faz a gente sentir arrepios, nao por sermos melhores ou piores, mas simplesmente por sermos presidiários anônimos sem preconceito.

2. Qual o maior desafio durante a sua gestão e a maior recompensa?

Quando fui presidente havia dois grandes desafios, fazer o churrasco no campo do Piedense e descer o Rosário na segunda feira. Tentei com a ajuda do Juliano e do Tiago fazer o melhor possível, no churrasco não faltar bebida e acho que não faltou. No fim bebemos umas três cervejas sem alcool que sobraram no freezer e fomos para a rua muito empolgados, alguns dizem que foram elas as responsáveis pelo grau.

Na segunda feira, o desafio era chegar na avenida sem problemas. Ja havia a preocupação do conselho tutelar, por isso conversei com o representante e com a PM pedindo apoio e tudo deu certo. Descemos o Rosário sem preconceito e chegamos na avenida sempre na mesma empolgação, é claro que sempre alguem ficava pelo caminho, mas em boas mãos...

A recompensa é ver os presidiários reunidos, é sentir a bateria, é tomar uma cachacinha da padiola. E fazer a segunda feira de carnaval de Piedade diferente.

3. Conte uma boa passagem do saudoso presidente de honra, Zé Helder.

Nosso saudoso Zé Helder era e sempre será a alma do nosso bloco, não tinha como olhar para ele sem pensar em presidiários anônimos. Quando ele me lançou como presidiário o Barrão ficou zuando dizendo que iria lançar outro candidato, isso aconteceu no churrasco no Piedense, o Zé ficou bravo demais e demos muitas risadas. No dia, ele dizia irritado que não iria aceitar aquilo e que eu iria ser presidente de qualquer maneira, e acabei sendo. Fora isso, ele sempre brilhou nos batizados, sempre mostrou sua força e alma presidiana. No fim, lembro de sua entrevista no blog, dizendo que não queria fazer apologia ao alcool, quem o via de fora pode até pensar que é bobeira, mas para quem o conhecia isso significa muito, porque na verdade ele queria dizer que para ser presidiários anônimos não precisa de álcool, precisa de paixão.

4. Como você enxerga o bloco atualmente e como imagina seu futuro?

O bloco cresceu muito, hoje é uma grande nação que pulsa na segunda feira de carnaval. Tive essa sensação durante o desfile de 20 anos, não imaginava a dimensão do bloco, pois um ou dois anos antes, fizemos um desfile na avenida 7 de setembro debaixo de chuva com poucos integrantes, mas mesmo assim vibrávamos por estar na avenida. Vejo que o caminho do bloco é continuar crescendo, e com certeza irá fazer cada vez mais seus membros felizes e orgulhosos de participar dessa nação. Só me preocupo com um ponto, o pessoal que chega ter o sentimento de que somos uma grande familia e algo eterno, porque uma vez presidiário sempre será presidiário, tanto é que não repetimos nossos números.

5. Qual a sua sensação ao ver o Bloco Caricato Presidiários Anônimos completar 25 carnavais?

É uma alegria enorme, não pela grandiosa festa que iremos fazer na segunda feira mas sim pela história que estamos construindo no carnaval de Piedade do Rio Grande, pela 25ª segunda feira que desfilamos. Mas nesse carnaval teremos momentos dificeis pois perdemos tres integrantes em 2010 que com certeza irão fazer muita falta, Porquinho, Moreno e o saudoso Zé Helder, além dos membros Marco Aurélio e Juninho que já são presidiários em outros carnavais. Acho que alem de comemorarmos nossa bodas de prata temos que prestar homenagens aos ausentes, além disso, acho que devemos ter consciência da vida. Ser presidiário é mágico e fantastico mas não podemos deixar que a emoção prevaleça sobre a razão. Nestes 25 anos gostaria de fazer um brinde aos presidiários e a vida.

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