Ser Presidiário é...
Não consigo combinar palavras capazes de traduzir a essência desta nação... Eu poderia usar a definição do dicionário (nação s. f. 1. Conjunto de indivíduos habituados aos mesmos usos, costumes e língua. 2. Estado que se governa por leis próprias), afinal, como diz um de nossos hinos, compartilhamos da mesma condição (a de presidiários) e vivemos sob nossas próprias leis (ao contrário e sem compromisso). Mas, ainda assim, seria insuficiente. A nação Presidiana, diferente do que possa aparentar, não nasceu da apologia ao álcool ou à transgressão, Ao Contrário, nasceu da alma poética de um homem que, justamente, por ver (e viver) a vida como uma eterna folia queria sim fazer apologia, não à subversão, mas à amizade, à celebração. “Presidiários Anônimos” é caricatura, é exagero, é a expressão bem humorada e descontraída da capacidade que temos de transformar um dia vazio numa grande festa. Creio ter sido este o ideal do nosso Eterno Presidente de Honra Zé Helder ao pôr, com a ajuda de seus companheiros, seu bloco na rua. E entendo ser a prova da nobreza e veracidade de tal ideal o fato de estarmos, há vinte e cinco anos, re-pondo o bloco na avenida e celebrando o que, verdadeiramente, nos re-une: a amizade e o abraço de Piedade.
por: 4362 - Aline Barra
domingo, 29 de agosto de 2010
Provável Notícia Inventada Recortada de um Jornal Inexistente
A morte, como sempre indiferente a esses assuntos dos vivos, simplesmente deu de ombros e vestiu sua túnica. Veio e cumpriu o seu trabalho, qual seja o de fazer do nosso vale de lágrimas um lugar ainda mais triste e nos lembrar que mesmo um homem capaz de personificar a mais pura alegria, um dia irá embora e será motivo de pranto para aqueles que tantas vezes fez sorrir no decorrer da vida.
Não é exagero dizer que neste caso, “A Indesejada das Gentes” executou sua tarefa com requintes de crueldade, parecendo esperar o momento especial em que os melhores presságios se anunciavam à sua vítima, para lhe tomar de véspera o que a vida até então ainda não lhe concedera. Como se sabe a morte não concede distinções; a ela tanto faz levar os de caráter mais jovial, os mais vivazes, ou os mais lutadores, ou os mais generosos, ainda que o caso em questão nos faça suspeitar de uma predileção sua por ceifar mais cedo os melhores dentre nós.
Durante a sua sofrida despedida já se iniciaram os relatos em verso e prosa das incontáveis façanhas, reais e imaginadas, que o falecido realizou em pouco mais de quatro décadas de vida. Pode-se afirmar que aquele que tiver ouvidos para ouvir - e paciência para transcrever - tantas narrativas, poderá compor uma das epopéias mais engraçadas, humanas e surpreendentes sobre a vida de um único homem de que até hoje se tem notícia. O fato pode ser atestado pelos risos que entrecortavam a tristeza onipresente testemunhada no seu velório, sempre que uma dessas histórias era relembrada e recontada, o que decerto deve ter lhe provocado um sorriso maroto e merecido sua aprovação, de onde quer que ele estivesse assistindo.
Quem presenciou sua última caminhada garante não poder esquecer jamais a visão do seu chapéu sobre o caixão e as dobras do sino da igreja, afirmando para os incautos o quanto aquela ausência irá perdurar pelos anos vindouros, e perguntando quanto tempo terá de passar para que a alegria de uma ceia, de um gole de cachaça, ou de uma cavalgada, deixe de vir acompanhada do travo de tristeza causado pela sua morte.
Renato Moreno deixa: a filha preciosa que amou mais que tudo nesta vida; numerosa família de pais, irmãos e sobrinhos devastados pela tragédia que nunca poderiam esperar; uma companheira inconsolável que apesar do coração partido terá de fazê-lo bater por dois, pois carrega no ventre o filho que o falecido já batizara de Marcianinho;e uma penca de amigos com os olhos cheios d´água, perplexos, desolados e sem saber aonde ir, agora que o Tijuquinho não há mais.
* Fernando Viotti, repórter de mentira, que desde o acontecido anda por aí “meio jururu”, já que, como dizia o seu amigo Renato, “depressão é coisa de gente da cidade”.
Desconfio que nem a notícia é inventada e tampouco o repórter é de mentira... Lindo texto, Fernando!!!
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