Ser Presidiário é...

Não consigo combinar palavras capazes de traduzir a essência desta nação... Eu poderia usar a definição do dicionário (nação s. f. 1. Conjunto de indivíduos habituados aos mesmos usos, costumes e língua. 2. Estado que se governa por leis próprias), afinal, como diz um de nossos hinos, compartilhamos da mesma condição (a de presidiários) e vivemos sob nossas próprias leis (ao contrário e sem compromisso). Mas, ainda assim, seria insuficiente. A nação Presidiana, diferente do que possa aparentar, não nasceu da apologia ao álcool ou à transgressão, Ao Contrário, nasceu da alma poética de um homem que, justamente, por ver (e viver) a vida como uma eterna folia queria sim fazer apologia, não à subversão, mas à amizade, à celebração. “Presidiários Anônimos” é caricatura, é exagero, é a expressão bem humorada e descontraída da capacidade que temos de transformar um dia vazio numa grande festa. Creio ter sido este o ideal do nosso Eterno Presidente de Honra Zé Helder ao pôr, com a ajuda de seus companheiros, seu bloco na rua. E entendo ser a prova da nobreza e veracidade de tal ideal o fato de estarmos, há vinte e cinco anos, re-pondo o bloco na avenida e celebrando o que, verdadeiramente, nos re-une: a amizade e o abraço de Piedade.

por: 4362 - Aline Barra

domingo, 27 de junho de 2010

Para José - por Anamélia Gonçalves


Para José

E agora José?
Ficou importante
É poema, não é?
Ficou impotente
Imponente o José.

Perdeu o emprego
Conhece as marés
É forte
Bateu
Bebeu
Morreu
Virou poema, José.

Está bêbado, José
Conhece Cristo,
Platão, Cecília e Russo
Puro delírio...
Lúcido.

Não tem amigos
Tem galera
Na maioria das vezes (que lugar comum!)
Está sozinho
Faz piada com sua dor
Fingidor.

Cita São Lucas na mesa do bar
Cansado, cambaleia
Não cai
Jamais.
Fala de Morrison, Dylan, Cássia
Para aquela turma do botequim que não quer saber de FHC ou Bush
Apenas sorri com o mundo azul marinho.

E você e profeta, parodia
É louco, anuncia
É José e não disfarça
E agora?

Você cheira a vodka e está no poema
Não trabalha e está no poema
Tem insônias, fobias, ataques, delírios
E está no poema
E agora?

E agora, José?
Meu tempo acabou
Já vi seu riso e por trás, a dor
Seu amor
Por Hendrix, Lennon, Simon
Pagodinho
Outro José.

Não completou escolaridade
Mas é PHD em alma humana
É bêbado
José
Sem graduação nem disciplina

Mas...
Há um brilho que me atrai por detrás de seus olhos
Vermelhos
Talvez porque me façam viajar
As suas fantasias
E você entra no poema, José
Porque é grande
Sua fé.

Ps.: Anamélia escreveu este belíssimo poema para o Zé em janeiro de 2002.

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